Eu comecei a odiar-te quando percebi que não acabámos por culpa minha. Eu acreditei durante imenso tempo que era a culpada do fim do nosso amor, e isso martirizou-me, consumiu-me e roubou-me muita vitalidade e esperança, enchendo o meu coração de culpa e revolta. Mas depois tudo fez sentido, e como peças de puzzle a encaixarem-se umas nas outras tive uma visão. Nessa visão estavas tu a sorrir como nunca te tinha visto, de mãos dadas com uma rapariga cuja cara era distorcida e pouco visível. Ao pescoço levava um colar com o nome Roxy. Só de pensar nesse nome o meu coração aperta. Sempre me fizeste acreditar que não, mas eu no fundo não passava de um remendo de uma relação falhada com o teu grande amor. Nunca me considerei burra, muito menos ignorante e foi por isso que foi para ti tão fácil dares-me a volta. Eu na minha juventude (sim, juventude porque já nos conhecemos à quase 2 anos e meio e digo-te que era uma pessoa completamente diferente daquela que sou agora) deixei-me levar pelo lindo conto de fadas que estávamos a viver e nunca mais pensei nela. Tinha ficado guardada num recanto da minha mente intitulado "NÃO MEXER".
Até ao dia em que sonhei com ela.
Lembraste? Estava no comboio a ir para o Pinhal Novo e liguei-te. Contei-te o meu sonho e perguntei-te se ainda pensavas nela. A tua resposta foi "estava a pensar mandar-lhe um mail para saber como ela estava". Tive vontade de chorar ali, mas lembraste do que te respondi? "Se achas que é isso que deves fazer então fala com ela amor". Não me lembro muito bem do resto da conversa mas lembro-me bem do que senti nesse dia. Lembraste que me perguntaste como era a voz dela? Eu respondi-te que era grossa só para ver o que dizias e tu respondeste que a voz dela era fininha. Isso assustou-me imenso porque a voz da rapariga que tinha falado comigo ao telefone no sonho tinha uma voz tão fina como a de um desenho animado. E isso só veio confirmar os meus medos e como os meus sonhos não se enganam, só me alertam. Mas queres mesmo saber o que me deixa mais triste? É saber que se ela hoje falasse contigo e te pedisse para voltarem acho que nem pensavas duas vezes.
Nunca senti ciúmes dela. Aceitava-a como parte do teu passado e como, digamos assim, "base" da nossa relação, mas preferia não pensar nela nem dar-lhe importância. Tu foste a primeira pessoa que amei a sério e por isso dei-te coisas que nunca mais poderei dar a ninguém e tu vice-versa. A diferença é que eu esperei imenso tempo por ti e quando nos começámos a conhecer melhor começaste a fazer sentido, especialmente depois de me convidares para o baile. Como vai ser daqui a 10 anos quando olhares para as fotos do baile e me vires ao teu lado com um ar constrangedor mas ao mesmo tempo eufórico? Vais ter saudades? Vais ter arrependimento de não ter lutado? Ou arrependimento de teres tentado? Vais ficar feliz pelos momentos bons? Ou triste pelos maus? Ou ambos?
Gostava imenso de o saber. Provavelmente vai-te ser indiferente, mas eu sei que daqui a 10 anos quando olhar para as fotos do baile vou simplesmente olhar para os teus olhos e estar feliz, porque naquele momento estavas feliz. E depois vou lembrar-me dos momentos bons. E depois dos maus. E depois fico triste e fecho o álbum mais uma vez.
Eu lutei imenso Ricardo, tu sabes disso. Lutei por mim, e lutei por ti até não ter mais forças, mas foi depois de ter lutado tanto que percebi que a culpa não era minha por me teres deixado de amar.
Ela esteve sempre presente dentro de ti, mesmo apesar de eu te ter dado coisas que ela nunca te deu, e amado como ela não te amou, e tu não deste valor porque não foste homem para suportar as minhas más marés. Mas para ela foste. E lutaste por ela, e lutaste, e lutaste, e lutaste, e lutaste até não teres mais nada para dar. Já chegaste a esta relação cansado e derrotado. Eu, cega de amores, não vi isso. Hoje pergunto-me porque é que não tinha percebido isso mais cedo. Custou-me mas percebi, e apesar de ainda te querer, já não te quero. Acho que mereço alguém que me ame como eu te amei, profunda e cegamente, era capaz de te seguir para qualquer lado, mas tu não soubeste dar valor. No fim de contas eu perdi alguém que não me amava, mas tu perdeste alguém que te amava imenso. Agora só espero que quando te voltares a apaixonar os papéis não se invertam e sejas tu a pessoa que sai magoada por gostar demais.
Espero que encontres a tua felicidade e quero que saibas que vais ter sempre um lugar no meu coração, mas com sentimentos muito mistos e indefinidos.
Até um dia.
Luciana Pacífico
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