quarta-feira, 11 de fevereiro de 2015

Marionetas

Não se brinca com almas.
Somos as estrelas.
Somos apenas estrelas.
Brindo a mim mesma com mais um copo de sangria.
Revejo-me em histórias de todos aqueles que já conheci.
Somos só estrelas.
Rio-me.
Falar é demasiado fácil.
Falar é demasiado difícil.
Falar e não fazer nada é fácil.
Mas às vezes também pode ser difícil.
Tal como compreender acções que não compreendemos.
E perdoar as coisas que ninguém fez.
Mas e se for a falta de acção que magoa?
Nisso a alma não perdoa.
Porque não há nada para perdoar.
Olho outra vez para as estrelas.
Será que somos só estrelas?

Com perícia e cuidado crio um simples boneco.
É só um boneco.
É só mais um dos bonecos que criei.
Mas ele ri-se para mim.
Ele consegue andar.
E consegue falar.
E consegue fazer-me rir.
Como eu gosto deste boneco.
E acho que ele também gosta de mim.
Pelo menos foi o que ele disse.
E eu acreditei.
Porque ele não passava de um boneco.
Um dia perguntou-me do que era feito.
Eu respondi que todos somos feitos de estrelas.
Ele não acreditou.
Então tive que lhe mostrar as estrelas.

Vês?
Já consegues perceber?
Ele diz que não.
Como é que não percebes que és as estrelas?
Ele entristece-se e diz que é só um boneco.
E não me fez mais rir.
Nem andava.
Nem sequer falava.
Por isso cozi-lhe uns fios.
E fiz mais uns truques aqui e ali.
Ele voltou à vida.
Perguntou o que eram estrelas.
E eu disse-lhe que todos nós éramos estrelas.
E ele sorriu.

Fez-lhe sentido sermos estrelas.
Porque somos estrelas.
Mas ele era uma marioneta.
E permanecia ignorante.
Porque era só uma marioneta.
Fazia o que eu dizia
Acreditava no que eu dizia
Chorava quando eu chorava.
E ria quando eu ria.
E dizia o que eu queria ouvir.
Era uma marioneta.

Um dia vi-o a olhar para as estrelas.
Porque é que ele olha tanto para a estrelas?
Somos só estrelas dizia ele.
E repetia.

Então um dia ele prometeu-me as estrelas.
Mas eu já não as queria.
E foi aí que eu percebi que não somos estrelas.
Somos só o que queremos ser.
E ele não queria ser uma marioneta.
Agarrei na tesoura.
Tentei cortar os fios que faziam dele uma marioneta.
Mas foi quando os tentei cortar que percebi algo.
Ele não era uma marioneta.

Olhei mais uma vez para as estrelas.
Foi quando olhei para cima que os vi pela primeira vez.
Os fios.
E olhei para ele confusa.
E ele olhou para mim.

Afinal eu não passava de uma marioneta.
(Não se brinca com almas)


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